21 novembro 2006

Campeonite . . .

Autor do texto - João Pereira Coutinho, jornalista. Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: - jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos.Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vidanão é a excelência, mas sim a felicidade!

1 comentário:

Anónimo disse...

Antes de mais quero exprimir a minha maior admiração por este blog, óptima ideia, aqui podemos opinar e ler as opiniões das outras pessoas, da discussão nasce a massa critica para construir, mal daqueles que não sabem ouvir.
Este texto ilustra o que efectivamente se verifica na realidade.
As exigências que são feitas às crianças a nível escolar e educacional, criam nas mesmas a tal angústia e ansiedade de contornos. Até aqui compreendo, pois estão a ser preparadas para o mundo laboral que cada vez é mais exigente e egoísta, direi mesmo canibalesco, a competição é cada vez mais desleal.
Entendo a nível escolar e educacional, mas o mesmo não posso dizer no campo desportivo, aqui nós pais temos muitas culpas, pois somos os transmissores dessa doença que apelidamos de “campeonite”.
Os nossos filhos se tiverem que vir a ter êxito a nível desportivo é por eles não por nós. Aos pais mais não resta do que tentar criar as melhores condições para que eles sejam felizes, isto no campo desportivo, pois no educacional o discurso já será outro.
No final de cada jogo o melhor é rejubilar-mos com a felicidade deles, pois como é lema do “Clube Desportivo de Paço de Arcos” do qual somos todos adeptos (disse adeptos não sócios) ‘Amizade primeiro, competição depois’.
No campo da amizade os nossos rapazes têm dado uma grande lição aos adultos, pois demonstram esse sentimento uns pelos outros e acima de tudo espírito de entreajuda, só assim têm surgido as vitórias, pois o ambiente que se vive na equipe, parece-me a mim, cinzento e descrente. Apresento as minhas mais sinceras desculpas se estou errado (Deus queira que eu esteja errado).
Força rapazes há que acreditar no futuro, pois como diz o autor deste texto: ‘… o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade! ‘ e para isso a amizade é indispensável.

Aquele abraço … e … façam o favor de ser felizes.

P.S. Aproveito para desejar boa sorte às nossas equipas de Juvenis e Juniores que vão disputar a Final Four do ‘Torneio de Abertura’ no Pavilhão do Física este fim-de-semana.

B’Cool