05 dezembro 2006

Desporto juvenil

Recuperamos esta prosa, com a intenção de que venha a ser lida, por muitos dos que habitualmente frequentam o Blog e apenas com o pressuposto de que do ponto de vista pedagogico interessa a todos os que estão envolvidos, directa ou indirectamente com a prática desportiva dos jovens.
" O programa JOVENS NO DESPORTO – UM PÓDIO PARA TODOS
engloba um conjunto de projectos e actividades, maioritariamente de formação, orientadas para a prática desportiva juvenil federada, tendo como grande meta contribuir para a emergência de uma nova cultura do desporto juvenil.
Esta coloca, desde logo, limites e moderação na definição dos objectivos mas também torna indispensável a persistência e a continuidade da intervenção.Com dimensão nacional, o mais alargada possível, o programa JOVENS NO DESPORTO UM PÓDIO PARA TODOS, pretende divulgar junto dos treinadores, dos dirigentes, dos pais, dos árbitros e dos adeptos em geral, a maneira mais correcta de encarar a participação de crianças e jovens no desporto, seja na perspectiva da formação de futuros praticantes, seja na de formação de futuros cidadãos para quem o desporto deve constituir uma actividade saudável, que se gosta de praticar.Fundamentação do projecto:
O desporto juvenil português debate-se hoje com problemas de uma baixa adesão às suas práticas e de um considerável abandono prematuro.Indicadores retirados de um estudo anterior efectuado no quadro de idêntico projecto, permitem constatar que o Sistema Desportivo Português apenas integra cerca de 10% da população juvenil entre os 10 e os 16 anos, faixa etária determinante para a aquisição de hábitos de actividade física, para a implantação do gosto pela prática desportiva e para a aquisição dos conteúdos básicos da maioria das modalidades.
Este quadro resulta da conjugação de múltiplos factores:
Das assimetrias de desenvolvimento desportivo, reforçadas por deficiências nos processos de mobilização e na rede e natureza das estruturas de acolhimento;
De um desvio acentuado na aplicação das orientações aconselhadas para a organização e condução das actividades no desporto juvenil, com repercussão no perfil dominante dos modelos de preparação, competição e intervenção, resultantes, sobretudo, de carênciassignificativas do respectivo enquadramento técnico;
Da emergência de actividades desportivas informais e do acesso dos jovens a uma grande diversidade de interesses fora da órbita do desporto.Numa perspectiva sistémica, as diferentes etapas da preparação desportiva, enquanto partes de um todo - o Sistema Desportivo - estão, necessariamente, interrelacionadas, influenciando-se mutuamente. Neste sentido, a preparação desportiva dos jovens, se não deve replicar os objectivos e características do Alto Rendimento, não pode deixar de promover o desenvolvimento dos alicerces que suportam as exigências de preparação e competição que caracterizam o nível superior de prática.Importa, portanto, no desporto juvenil, articular a sensibilização e promoção da prática com a detecção e enquadramento dos mais dotados, numa lógica que faça encarar a preparação desportiva juvenil como um processo a longo prazo, organizado em etapas diferenciadas, nos seus objectivos, métodos e necessidades de enquadramento.A diferenciação das várias etapas, se essencial para a concretização daquele objectivo, não é, infelizmente uma característica do desporto representado na sociedade portuguesa, que tende a generalizar, a todos os níveis da prática desportiva, os princípios, os valores e os conceitos do Alto Rendimento e das práticas e actividades mais mediatizadas.
Por outro lado, os índices de iliteracia desportiva e de sedentarismo dos portugueses são evidentes e naturalmente preocupantes, tendendo mesmo a aumentar, ou, pelo menos, não se vislumbrando uma clara inversão daquela tendência.O desenvolvimento desportivo do País deverá assim contemplar todas estas facetas, pressupondo, portanto, não só a adopção de medidas tendentes ao aumento global do número de praticantes, como, também, ao aumento do número daqueles que, por manifestarem potencialidades e vontade, se envolvem em percursos de preparação desportiva em transição para o Alto Rendimento, projectados, necessariamente, a prazos mais distantes. Ou seja, o processo de desenvolvimento desportivo implica:
Mais jovens a praticar desporto, seja pelo aparecimento de novas oportunidades de participação, seja pela correcção das atitudes daqueles que condicionam a prática evitando com isso o respectivo abandono, destacando-se neste campo, pela importância da sua intervenção, os treinadores, os dirigentes e os pais.
Mais qualidade da prática realizada, isto é, respeitando os princípios e as recomendações para o desporto juvenil, balizados pelos processos de crescimento e maturação, pelas motivações mais significativas dos jovens para a adesão e permanência no desporto em geral e pelas necessidades do Alto Rendimento;Se promover o desporto juvenil contribui, em certa medida, para robustecer a base de massa do Alto Rendimento, todavia, aumentar o número de praticantes no desporto juvenil, não é apenas uma questão de alimentar a prática de excelência.De facto, o Movimento Associativo Desportivo, ao intervir sobre crianças e jovens, abarca, predominantemente, o intervalo etário que coincide com o período de escolaridade obrigatória, não podendo, assim, deixar de contribuir para o desenvolvimento integral dos jovens, afirmando o Desporto como um importante factor de aperfeiçoamento pessoal e social, na formação do carácter, integração dos valores da cidadania em geral e da ética e espírito desportivos em particular, sensibilização/desenvolvimento de estilos de vida saudável.
Os desvios às orientações recomendadas para os modelos de preparação, competição e intervenção no desporto juvenil, constrangem a evolução dos jovens praticantes, não só na perspectiva de futuros atletas, prejudicando a criação dos indispensáveis suportes do Alto Rendimento, como também no seu desenvolvimento pessoal e social.
Esta situação, cuja responsabilidade directa recai, fundamentalmente, sobre os agentes que organizam as actividades e enquadram os praticantes, resulta de duas razões principais:Uma perspectiva inviezada dos conceitos de competição, sucesso, vitória/derrota, atitude perante o erro e superação no desporto juvenil e a pouca ou nula visibilidade e reconhecimento atribuídos aos treinadores, dirigentes e instituições que se dedicam ao desporto juvenil.
Neste contexto, treinadores, pais e dirigentes tendem a fazer da prática desportiva um espaço de afirmação pessoal, subordinando a sua acção a objectivos centrados no resultado desportivo a curto prazo, transmitindo aos ambientes de prática (treino e competição) uma configuração penalizante para os jovens praticantes: desconforto, emergência de conflitualidade, desenvolvimento de expectativas irrealistas, frustração, desinteresse e quebra de entusiasmo, resistência/oposição à intervenção do treinador, défice de correcção no processo ensino-aprendizagem.
Como consequência, surgem reflexos desfavoráveis na sua formação, quer no plano das competências técnicas (saber fazer), quer das humanas e sociais (saber ser, saber estar), para além de constituir um dos factores mais consistentes de explicação para o abandono precoce.A observação regular da prática desportiva juvenil torna evidente que o processo de desenvolvimento desportivo e a formação dos praticantes exige uma alteração das práticas no que respeita aos modelos de preparação, competição e intervenção, o que implica, em primeiro lugar, mudar as crenças e atitudes dos treinadores, dirigentes e pais, contribuindo para que estes "revejam" os seus conceitos de competição, sucesso, vitória/derrota, atitude perante o erro e superação.Não basta sensibilizar e promover a prática mobilizando a adesão de novos praticantes.
É também necessário garantir, em paralelo, condições de acolhimento. Neste particular, o Movimento Associativo Desportivo, por muito que se expanda, tem, neste plano, um potencial relativamente limitado, pelo que não pode ser a única agência mobilizadora e de enquadramento das crianças e jovens que se constituam como novos candidatos a praticante desportivo.Assim, uma oferta desportiva alargada, minimamente estruturada (treino regular, carga de treino semanal aceitável, quadro de competições adequado) não dispensa o envolvimento de outras instituições, clarificados que sejam os objectivos principais e as áreas de intervenção de cada uma delas e os modelos de articulação entre si.
O Desporto Juvenil, no contexto do Sistema Desportivo, é uma realidade complexa que envolve vários factores para além do próprio Movimento Associativo Desportivo: Escola, Família, Autarquias, Comunicação Social.Por isso a intervenção sobre essa realidade no sentido da sua transformação quantitativa e qualitativa é, necessariamente, multifactorial: treinadores, pais, dirigentes, jornalistas.Todavia, da panóplia de alvos possíveis, o treinador constitui o elemento nuclear do processo desportivo e é instrumento determinante da sua transformação. Cabe-lhe a responsabilidade de agir, não só sobre os praticantes, mas também sobre pais e dirigentes, a fim de alterar as atitudes e comportamentos destes face ao desporto juvenil.É neste contexto, e no sentido de corrigir os desvios que caracterizam, em geral, a prática desportiva juvenil, que se afigura indispensável intervir prioritariamente, de forma suficientemente intensa, sobre a filosofia dos treinadores de jovens, isto é, sobre a forma como perspectivam a sua participação e a das crianças e jovens na prática desportiva, contribuindo para reformular o seu pensamento e a sua filosofia de intervenção, a fim de alterar as atitudes, para poder, de forma mais facilitada, alterar as práticas."

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